Epifania do Senhor: a esperança das nações

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Diácono Guto

"Cristo é a luz de todos os povos" (Lumen Gentium, 1)

Pelo preceito canônico, a Epifania do Senhor é celebrada na liturgia, pela Igreja no Brasil, no Domingo entre os dias 2 e 8 de janeiro. A devoção popular conserva a data no dia 06 de janeiro, a tradicional “Festa de Reis”. Epifania quer dizer “manifestação” ou “aparição”. Com a celebração desta solenidade do Senhor, a liturgia, pedagogicamente, distingue dois aspectos fundamentais da noite santíssima do nascimento do Salvador: o acolhimento do Filho de Deus por alguns do povo de Israel, representado por Maria, José e os pastores de Belém (Lc 2,1-14 – Evangelho da Noite de Natal) e o acolhimento deste mistério pelos povos pagãos na figura dos Reis Magos (Mt 2, 1-12 – Evangelho da solenidade da Epifania).

A celebração da Epifania, portanto, torna-se uma expressão da universalidade da salvação: Deus manifesta-se, plenamente, no Verbo encarnado para salvar toda a humanidade. Enquanto possibilidade, a salvação é destinada a todos os povos. Num singelo paralelismo histórico e teológico do único mistério da encarnação, pode-se dizer que o 25 de dezembro é o “Natal e esperança dos eleitos” (povo de Israel) e o 06 de janeiro o “Natal e esperança dos pagãos” (todos os povos). Ninguém é excluído do convite para adorar o Deus Menino na manjedoura e deixar-se moldar por ele.

Da universalidade da salvação, expressa na Epifania, resulta a atividade missionária da Igreja, sinal erguido sobre as nações para reunir, num único rebanho, os filhos de Deus dispersos. Pela pregação da Palavra e o ensino da doutrina, a celebração dos sacramentos e o testemunho profético da caridade, a Igreja continua no mundo a obra de Cristo, a luz de todos os povos (cf. Lumen Gentium, 1). Mas também é preciso reconhecer que o mistério da encarnação, na Epifania do Senhor, alude à “um raio da Verdade que ilumina todos os homens” (Nostra Aetate, 2): o amor ao próximo, a busca pela Verdade, o Bem e o Belo, a sede de eternidade, a vivência das virtudes morais, etc. Todos estes são indícios de salvação que apontam para a plenitude da revelação no Cristo Redentor.

Neste Ano Jubilar, a Epifania recorda que “[…] o predito pelos profetas, esperado com amor de mãe pela Virgem Maria e anunciado estar próximo e presente no mundo por João Batista” (Prefácio do Advento II, MR. p. 453) foi desejado primeiramente por Israel, mas não unicamente. Ele é a esperança de todos os povos. Nos Reis Magos, diante da manjedoura, estavam o tu e o eu, os homens e mulheres de todos os tempos e lugares. Aqueles que não são de Israel ou foram circuncidados: norte-americanos e latinos, africanos e europeus, asiáticos e oceânicos, pobres e ricos, negros e brancos, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, orientais e ocidentais, a ciência e a religião; todos aqueles que, independente da raça, cultura ou status social, colocam a sua esperança no Cristo.

Que o mistério da encarnação, manifestado a todos os povos na presença dos Reis Magos, seja esperança, luz e salvação para todas as nações!


Pe. Lucas Pereira dos Santos
Vice-reitor do SIDES

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